Cresce mercado de agtechs que buscam soluções sustentáveis para a agricultura
Cada vez mais, avanço do agronegócio dependerá de propósito e tecnologias adaptadas às mudanças climáticas
Inovação

Desde outubro do ano passado, em meu tempo fora de grandes
organizações, tenho me dedicado a estudar startups e buscar informações e
conhecimentos sobre elas, especialmente as agtechs.
Foi assim que cheguei aos primeiros 13 nomes de empresas que
acreditava que, por sua tecnologia disruptiva, time preparado e processos bem
organizados, teriam destaque em 2021.
E, felizmente, boa parte delas registrou crescimento
importante e até a entrada de capital. Falo da lista composta por: Agristamp,
Atomic Agro, Bart Digital, Digifarmz,
Solubio, Flex Interativa, GoFlux, Grão Direto, InovaFarm, Safetrace,
Seedz, TerraMagna e Traive.
No ano de 2020, o Brasil teve um crescimento exponencial em
termos de ambiente de negócios e proliferação de startups. Segundo o ranking da
startupBlink, figuramos na 20ª posição nesse aspecto. Em 2019, estávamos na 37ª
colocação.
Na América Latina, o Brasil é o primeiro dos países, por
quesitos como: quantidade e qualidade das startups e maturidade do ambiente de
negócios. E, nesse ambiente, sem dúvida, as agtechs têm lugar de destaque.
AÇÃO TRIPLA
Dentre as agtechs, a diferenciação mais comum é feita em
três segmentos: o antes, dentro e depois da porteira. Hoje, temos 199 agtechs
atuando antes da fazenda, 657 dentro da fazenda e 718 depois da fazenda,
totalizando 1.574 agtechs, conforme o Radar Agtech Brasil 2020/2021, da
Embrapa.
Mas, para além dessa segmentação, o que tem me chamado a
atenção são as startups do agro sustentável. Agora, com o novo desafio em
estruturar uma empresa de bio soluções, que se chamará Valeouro Biotec, estou
tendo a oportunidade de conhecer com mais profundidade algumas dessas empresas
para promover sinergias, co-desenvolvimento e inclusive acesso ao mercado.
REVOLUÇÃO DENTRO DA PORTEIRA
No Brasil, fomos capazes de criar um modelo sustentável e
competitivo de agricultura tropical sem paralelo no mundo, com uma agricultura
baseada em ciência, inovação e empreendedorismo. E, com o crescimento e a
necessidade de alternativas sustentáveis, tenho certeza de que também seremos
referência na busca de bio soluções.
Ainda segundo o Radar Agtech Brasil 2020/2021, das 657
agtechs dentro da fazenda, 32 estão buscando desenvolver justamente o controle
biológico e o manejo integrado de pragas.
Essas empresas apresentam soluções desde a fabricação de
microrganismos pelo próprio produtor até soluções como scouting e diagnóstico
para controle de pragas, doenças e plantas daninhas.
DE OLHO NA GÊNICA
Uma das startups de destaque, na minha opinião, é a Gênica,
criada por Fernando Reis — empreendedor que ajudou a fundar outra grande
empresa no Brasil, a Fast Agro — e que agora tem a seu lado também o Prof. Dr.
Carlos Labate, da Esalq-USP.
A união de um visionário junto a um profundo conhecedor
técnico, criaram uma empresa com forte foco em inovação e geração de valor para
o agronegócio.
Esses quatro valores são essenciais para quem quer quebrar
paradigmas e oferecer uma alternativa mais sustentável para agricultura
brasileira e isso chamou a minha atenção.
Hoje a Gênica atua em todo o território brasileiro, atingiu
a marca de 100 colaboradores e inaugurou em 2021 seu Centro de Inovação,
sediado no Parque Tecnológico de Piracicaba (SP), com foco em P&D de
bioprodutos, desde a descoberta, passando pela formulação e melhorias.
Sua presença está consolidada nos mercados de grãos e
cana-de-açúcar, e uma expansão está em curso para hortifrútis e café. Ao todo,
a empresa tem 17 produtos no portfólio, e sete deles foram lançados em 2021 —
indo do controle biológico e da inoculação de culturas até a nutrição, proteção
e equilíbrio para as plantas.
Com a proposta de estimular ainda mais o uso de bioinsumos,
a Gênica vai lançar, em breve, o Sistema REGENERA, que funciona sobre os
pilares de: diagnóstico da área (histórico + análise genética do solo);
definição da ferramenta a ser utilizada (combinação de organismos, formulação,
isolado); posicionamento (timing, modo de aplicação, associações); frequência
(inundação, inoculação) e tecnologia de aplicação (horário, vazão, adjuvante
etc).
Um forte time de pesquisa e desenvolvimento aberto à
colaboração ajudam a explicar, por fim, o sucesso da empresa, sediada no Vale
do Piracicaba, ao lado de:
– Instituições de
pesquisa mundialmente reconhecidas por suas estruturas e pesquisadores, como
Esalq-USP, Unicamp, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e unidades da
Embrapa;
– Investidores especializados no desenvolvimento de agtechs;
– Empresas que atuam e operam diretamente do AgTechValley.
Na minha visão, são esses fatores juntos que têm garantido
acesso ao mercado à startup, que já atende clientes importantes como
Produtécnica, Agrex, Usina São Martinho, Coplana, Agrofel e Via Fértil.
APOSTAS
Otimista com o futuro sustentável, aproveito para deixar
anotadas minhas apostas nessa categoria, que além da Gênica, tem destaques
como: Agrymet, BRCarbon, Drop, E-ctare, Geplant, Hakkuna, Implanta It
Solutions, SmartBreeder, Inceres, Wolk, Shooju, Leigado, e-Trap, Forlidar, Agro2businness
e Nano Scoping.
Que no ano que vem possamos olhar para elas e refletir sobre
o quanto avançaram!
Sobre o autor: Renato Seraphim é engenheiro agrônomo
graduado pela Unesp de Jaboticabal (SP) e pós graduado em Marketing pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV). No agronegócio, fez especializações junto ao
Programa de Estudos dos Sistemas Agroindustriais (Pensa-USP), à Fundação Dom
Cabral (FDC), Insead Business School e Perdue University. Com 25 anos de
experiência no setor, tem passagem por empresas de defensivos agrícolas e
biotecnologia.
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade
exclusiva do autor e não refletem necessariamente a visão do AgTech Garage News
e da John Deere.
Texto publicado originalmente no: https://www.agtechgarage.news/cresce-mercado-de-agtechs-que-buscam-solucoes-sustentaveis-para-a-agricultura/