O que é upskilling para o agronegócio?
Termo que significa "requalificação e desenvolvimento de novas habilidades" promete entrar para o vocabulário de quem trabalha dentro e fora da porteira
Inovação

É notória a evolução do agronegócio brasileiro nas duas
primeiras décadas deste século. Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações dos produtos do
agronegócio saltaram de US$ 20,6 bilhões no ano 2.000 para US$ 100,8 bilhões em
2020 – um aumento de quase 400%.
E de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada (Cepea), o agronegócio garantiu o superávit da balança
comercial brasileira com participação de 48% das exportações totais do país e
representou 26,6% do Produto Interno Brasileiro (PIB) em 2020. Esses números
demonstram o potencial do setor na economia e o papel do Brasil como fornecedor
sustentável de alimentos, bioenergia e outros produtos no cenário global.
Ao longo desses últimos 20 anos, ocorreram diversas
transformações no uso de tecnologias, como organismos geneticamente
modificados, agricultura de precisão, irrigação, avanço na mecanização
agrícola, plantio direto na palha, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de
softwares na gestão, entre outros. Isso foi possível com pesquisa, desenvolvimento,
formação e capacitação de profissionais, que adquiriram novas habilidades para
liderar essas disrupções.
CANA “MECANIZADA”
Um exemplo de mudança em larga escala ocorreu no setor sucroenergético, com a
mecanização da colheita da cana-de-açúcar, que deixou de ser queimada e colhida
manualmente, para adotar padrões de produção mais sustentáveis e digitais. Essa
transição foi relativamente rápida. A participação da colheita mecanizada no
Brasil passou de 37% em 2008 para 89% em 2019. Considerando somente a região
Centro-Sul, que representa cerca de 90% da moagem de cana do país, a taxa atual
é de 97%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Esse avanço trouxe impactos positivos, como o aumento da
produtividade, a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) e a
melhoria nas condições de trabalho. Também reduziu a necessidade de
funcionários realizarem determinadas atividades rotineiras, levando
trabalhadores com baixo nível de escolaridade a passarem por um processo de capacitação
para atender à demanda por profissionais mais qualificados. São eles
mecânicos, motoristas e operadores, entre outros.
A pandemia de covid-19 acelerou essa transformação, ao
provocar diversas mudanças no ambiente profissional e demandar novas habilidades
e competências.
Esperanças e temores 2021, pesquisa
da PwC Brasil (Fonte: PwC)
FERRAMENTAS DIGITAIS
No agronegócio, as ferramentas digitais trazem ganhos de produtividade, por
meio do uso de equipamentos que viabilizam a identificação de problemas,
doenças e pragas com base em análises de dados de clima e de solo. Desta forma,
as fazendas têm acesso a informações precisas sobre o manejo
agronômico da lavoura e a comercialização passa a ser feita por e-commerce, marketplaces e
plataformas de negociação on-line.
Em relação à mecanização, já é possível observar o uso de
tratores autônomos, robôs que fazem colheita e drones para diversas aplicações,
como avaliação de imagens e pulverização. Outras tecnologias integradas, como
inteligência artificial e internet das coisas, geram mapas e sensores que
ajudam a tomar as melhores decisões para otimizar as atividades relacionadas à
produção agropecuária. Diversos novos players (como as agtechs)
estão criando e desenvolvendo modelos disruptivos para atender às novas
demandas do mercado agrícola.
REQUALIFICAÇÃO
Essa transformação exige dos profissionais novas habilidades para enfrentar os
desafios da automação, deixando muitas pessoas temerosas de perder o emprego.
Uma pesquisa global da PwC realizada em 2021 com 32.500 trabalhadores aponta
que 60% estão preocupados com o fato de a automação estar colocando muitos
empregos em risco e 39% acreditam que seu trabalho provavelmente se tornará
obsoleto em cinco anos.
Ao mesmo tempo, a pesquisa revela que os trabalhadores
querem se requalificar: 40% responderam que melhoraram suas habilidades
digitais durante a pandemia; 77%, que estão prontos para aprender novas
habilidades ou fazer uma reciclagem completa; 74% veem o treinamento como uma
questão de responsabilidade pessoal; e 80% estão confiantes em poder se adaptar
às novas tecnologias adotadas em seus locais de trabalho.
Esperanças e
temores 2021, pesquisa da PwC Brasil (Fonte: PwC)
Se por um lado os trabalhadores têm interesse em buscar a
requalificação, por outro, as disparidades no acesso a treinamento permanecem.
Aqueles que mais precisam de habilidades digitais ainda são os menos propensos
a obtê-las.
UPSKILLING
Se essa tendência continuar, corremos o risco de aumentar a exclusão digital.
Por isso, é preciso criar oportunidades mais inclusivas de upskilling – termo
em inglês para requalificação e desenvolvimento de novas habilidades.
Segundo relatório da PwC desenvolvido em colaboração com o
Fórum Econômico Mundial, o upskilling será fundamental, mas há desafios como a
desconexão entre programas de educação atuais e as competências que os
profissionais carecem hoje e precisarão no futuro.
O potencial de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) global
com o upskilling é de US$ 6,5 trilhões até 2030, desde que eliminadas as
lacunas de competências nos diversos setores de atividades dos diferentes
países e regiões.
Ainda segundo o estudo, ao capacitar os profissionais com as
novas habilidades requeridas para atuar nesse novo cenário de tecnologias
digitais, a estimativa é atingir um aumento de 4,7% no PIB do agronegócio
global até 2030, considerando como base preços e estimativas de 2019.
CÍRCULO VIRTUOSO
Isso demonstra que o aperfeiçoamento do conhecimento por meio do upskilling
pode desencadear um círculo virtuoso. Quanto melhor forem as habilidades,
maiores as chances de fazer um trabalho diferenciado, que vai gerar
oportunidades para continuar desenvolvendo novas habilidades.
O agronegócio brasileiro apresenta todas as condições para
se consolidar como fornecedor global sustentável de alimentos, bioenergia e
outros produtos agrícolas, uma vez que tem disponibilidade de terras, relevo
adequado, climas favoráveis, ferramentas tecnológicas e talentos – que
certamente serão alavancados com o upskilling.
*Sobre os autores:
Maurício Moraes é sócio e líder de Agribusiness da PwC Brasil
Marcos Panassol é sócio e líder de Digital Upskilling da PwC Brasil
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