Manejo de ordenha impacta na qualidade do leite e nos ganhos
Produtor pode aumentar seus lucros e sua competitividade produzindo leite com maior qualidade
Pecuária

O número de vacas ordenhadas no Brasil vem caindo desde 2014
e, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o efetivo de vacas ordenhadas em 2019 foi de
16,27 milhões de animais, 0,5% menor em relação a 2018.
Porém, a captação de leite aumentou nos últimos anos,
atingindo, em 2019, 34,84 bilhões de litros.
Figura 1. Evolução da produção de leite (bilhões de litros) e da quantidade de vacas ordenhadas (milhões de cabeça) no Brasil desde 2000.
Fonte: IBGE / elaborado pela Scot Consultoria.
Esse cenário demonstra que os produtores têm utilizados mais
tecnologia na atividade, implementado sistemas de produção mais eficientes,
atrelando genética, nutrição, sanidade e manejo para atingir os melhores
resultados.
QUALIDADE DO LEITE
Nesse contexto, a questão da qualidade do leite tem evoluído
no país e é um ponto importante para a cadeia em geral. Em muitos casos, a
baixa qualidade do produto está relacionada a deficiências no manejo e higiene
de ordenha, manutenção e desinfecção inadequada dos equipamentos, refrigeração
ineficiente e mão de obra desqualificada.
Antes de falarmos sobre o manejo de ordenha, é
imprescindível entendermos sobre os padrões que determinam a qualidade do
leite.
De forma simples, a contagem bacteriana total (CBT) indica a
contaminação do leite por bactérias. Já a contagem de células somáticas (CCS) é
um critério mundialmente utilizado para o monitoramento de mastite em nível
individual e de rebanhos. Ambas demonstram se o manejo de ordenha está sendo
realizado corretamente, facilitando o atendimento dos padrões de qualidade
estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
e serão abordadas mais à frente.
MANEJO DE ORDENHA
A implantação de um correto manejo visa uma ordenha
completa, rápida, higiênica e com baixo risco de lesões aos tetos das vacas, fatores
que impactam diretamente na obtenção de uma matéria-prima de qualidade para a
produção de derivados lácteos de elevado valor nutricional.
Com esse objetivo, as instalações devem ser construídas visando
reduzir o estresse nos animais, a partir do uso de diferentes materiais de
construção, dimensionamento do espaço físico, densidade e sistema de
climatização.
A condução das vacas para o local da ordenha deve ser feita
com tranquilidade, sem gritos ou elementos estressantes. O ideal é que elas se
locomovam voluntariamente e, para isso, a condução deve ser realizada
preferencialmente sempre pela mesma pessoa e de preferência no mesmo horário,
já que os bovinos se habituam a uma rotina diária. Esse fator influencia
diretamente na produção, pois vacas que recebem maus tratos, algo que frequentemente
ocorre na prática, podem apresentar redução na produção de leite em relação
àquelas tratadas gentilmente.
FREQUENCIA DA ORDENHA
Com relação à frequência de ordenha, Erdman & Varner
(1995) relataram em seus estudos que as propriedades que realizavam três
ordenhas diárias ao invés de duas obtiveram um aumento de 3,5 kg/dia de leite
por vaca. Portanto, quanto maior a frequência de ordenhas, maior a produção de
leite.
Na sala de espera da ordenha, a distância deve ser de
aproximadamente 2,5m² por animal quando o sistema é a pasto e quando é
confinamento deve ser 1,8m² por animal. Quanto à estrutura, o piso deve ser de
concreto ou cimentado, contendo frisos para garantir apoio aos animais.
As vacas devem ser ordenhadas numa ordem que evite uma
contaminação cruzada e que garanta as melhores condições do leite produzido.
Assim, as vacas de primeira cria devem ser ordenhadas primeiramente, seguidas
pelas vacas sadias, vacas com mastite subclínica, vacas em colostro e vacas com
mastite clínica e em tratamento.
O leite das vacas em colostro e em tratamento não deve ser
misturado no tanque com o leite das demais e não deve ser aproveitado para
consumo humano. Para as vacas em tratamento, deve-se obedecer ao período de
carência dos antibióticos. Vermífugos, carrapaticidas, inseticidas,
desinfetantes e detergentes também podem estar presentes no leite e o produtor
deve estar atento para evitar os resíduos desses produtos.
HIGIENE PRÉ E PÓS ORDENHA
Antes da ordenha, o ordenhador deve lavar as mãos com água e
sabão, e não deve tocar em materiais contaminados.
Os tetos das vacas não devem ser lavados, só em casos de onde
houver muita sujidade e, neste caso, lavar apenas a região dos tetos, para que
as sujidades não escorram do úbere e contaminem o processo.
Os tetos devem ser mergulhados em solução desinfetante antes
da ordenha, chamada de pré-dipping, usando soluções comerciais à base de iodo,
cloro, clorexidina etc., deixando agir por 30 segundos, e secando os tetos com
papel toalha descartável. É importante usar partes diferentes do papel para
secar cada teto individualmente e não usar panos, que podem acumular sujidades
e microrganismos.
Após a realização do pré-dipping, devem ser realizados os testes
de diagnóstico de mastite.
TESTE DA CANECA
O teste da caneca consiste em retirar os três primeiros
jatos de leite de cada quarto mamário em uma caneca de fundo escuro ou telada,
observando se há a presença de grumos, sangue, pus ou coloração alterada. Ele
deve ser realizado diariamente em todas as ordenhas, visando detectar mastite
clínica, ou seja, aquela em que o animal demonstra sinais da doença.
Caso o leite apresente alguma das alterações, a vaca deve
ser ordenhada separadamente, ao final da ordenha, o leite não deve ser
aproveitado para consumo humano, e o tratamento do animal deve ser instituído.
TESTE CMT
Já o teste CMT (California Mastitis Test) deve ser feito uma
vez no mês e seu resultado aponta para mastite subclínica, ou seja, aquela em
que os sinais da doença não são notados. Ele consiste em retirar os primeiros
jatos de leite de cada quarto mamário em uma divisão da bandeja, específica
para o teste de CMT, onde é adicionado o reagente e homogeneizado. O teste
estima, através da viscosidade obtida na mistura, o grau de resposta
inflamatória no úbere (quantidade de CCS). O escore 1 indica uma reação
completamente negativa e os de 2 a 5 indicam graus crescentes de resposta
inflamatória, sendo normalmente considerados como indicativos de mastite
subclínica.
O animal que se enquadre nos graus de 2 a 5 deve ser ordenhado
normalmente e não deve ser tratado com medicamentos. Caso a mastite seja
persistente, coletar o leite para análise
microbiológica.
Para ambos os testes, o ideal é que sejam mantidos registros
dos resultados para acompanhamento do rebanho.
Na ordenha em si, o leite deve ser totalmente retirado
(esgotado), evitando deixar conteúdo residual, e após a ordenha, mergulhar os
tetos em solução desinfetantes comerciais (pós-dipping) à base de iodo,
clorexidina etc., que contenham um emoliente, como a glicerina.
É necessário que as vacas permaneçam em pé após a ordenha
por pelo menos duas horas até que orifício do úbere se feche, evitando a
ocorrência de mastite. Uma forma de se atingir esse objetivo é alimentar as
vacas após a ordenha.
FERRAMENTAS DE AUTOMAÇÃO
Atrelado à melhoria da higiene no manejo de ordenha, o aprimoramento
da produção leiteira é de extrema importância e traz vantagens para o produtor
que deseja ir além e se destacar nesse cenário.
Neste sentido, a automação de atividades na sala de ordenha
é uma ótima opção. Através dela é possível padronizar atividades que antes eram
manuais e, portanto, passíveis de erros.
O objetivo da automação é retirar o máximo de leite, no
mínimo de espaço de tempo, sem prejudicar a saúde da vaca e, consequentemente,
maximizando o uso da mão de obra.
Pensando no equipamento de ordenha, a seleção do tipo e o
grau de automação que o produtor pode inserir na sua propriedade dependem de
fatores como o número de vacas em lactação, capital disponível, disponibilidade
de assistência técnica e eficiência da mão de obra.
As opções são as ordenhas mecanizadas, automatizadas e
robotizadas, sendo que, nessa última, o aumento da produtividade e qualidade do
leite pela maior frequência de ordenhas são mais evidentes.
Além disso, na ordenha robotizada, existe a possibilidade de
coleta de dados e informações, que vão ajudar o técnico e o produtor na tomada
de decisão e no planejamento de estratégias para manter a saúde e qualidade de
vida das vacas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intensificação da pecuária leiteira e adoção de técnicas eficientes
são fundamentais para o sucesso da atividade e isso inclui questões básicas de
higiene e manejo de ordenha.
É imprescindível que sejam utilizados controles de índices
zootécnicos e monitoramento dos animais e da propriedade, pois é a partir dessas
informações que se verificam os resultados de rentabilidade proporcionados.
Além disso, é fundamental que a cadeia do leite como um todo
tenha uma estrutura capaz de garantir aos produtores os meios para que produzam
leite com qualidade.
Para finalizar, os preços médios do leite pago ao produtor
considerando as bonificações por qualidade e volume chegam, em alguns casos, a
30% acima da média recebida pelos produtores com produção menor e leite de
menor qualidade. Ou seja, essa diferença, em muitos casos, é responsável pelos resultados
econômicos positivos da atividade.
Referências
Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
ERDMAN, R.A.; VARNER, M. Fixed yield responses to increased
milking frequency. Journal of
Dairy Science, v.78, n.5, p.1999-2003, 1995.
SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Estratégias para Controle
de Mastite e Melhoria da
Qualidade do Leite. Editora Manole, Barueri. 314p. 2006