Sazonalidade de preços do boi gordo no primeiro e segundo semestres
Embora o volume abatido seja historicamente maior na segunda metade do ano, as cotações do boi gordo também são maiores
Pecuária

A primeira metade do ano é considerada o período de safra,
com a maior oferta de gado terminado em pastagens.
Isso ocorre porque o período de chuvas normalmente começa
entre setembro e outubro e termina em abril e maio na maior parte das regiões
relevantes de pecuária. Com isso, a oferta de gado oriundo de pastagem se
concentra no primeiro semestre, o que se soma à venda de fêmeas após a estação
de monta.
No caso das fêmeas, a sazonalidade está relacionada ao
descarte das que não emprenharam após a estação de monta.
Já o segundo semestre é mais dependente da oferta de gado
vindo dos confinamentos, atividade afetada pelos preços da reposição (boi
magro) e insumos para alimentação, com destaque para o milho. Em anos de
rentabilidade mais apertada, normalmente a oferta da segunda metade do ano é
impactada.
SAZONALIDADE DE OFERTA
Apesar de a primeira metade do ano ser conhecida como o
período de safra, na média desde 2010, os abates no segundo semestre superam em
3,5% os das primeiras metades dos anos.
Quando consideramos as categorias, fica claro o efeito do
confinamento sobre a oferta na segunda metade do ano. Bois e novilhos têm
acréscimos de 14,7% e 30,4% nos abates, frente aos primeiros semestres, e tais
categorias são mais relevantes na composição do confinamento, menos usado para
fêmeas.
Figura 1. Variações médias de abates no Brasil, no segundo semestre, frente à primeira metade do ano, por categoria, entre 2010 e 2020.
Fonte: IBGE / Scot Consultoria
Se apenas a oferta de gado definisse os preços poderíamos
acreditar que o segundo semestre é de cotações menores para o boi gordo, o que
não acontece. Isso porque, paralelamente ao cenário de oferta maior, temos o
consumo da segunda metade do ano também superior.
Enquanto o ano começa com os impostos incidentes no período,
na reta final do ano temos as contratações temporárias, os décimos terceiros
salários e as bonificações, que ajudam a aumentar o dinheiro circulante,
consequentemente o consumo, incluindo o de carne bovina.
Com isso, apesar de a oferta de gado ser maior no segundo
semestre, os preços, em média, também são superiores. Esta sazonalidade das
cotações, inclusive, foi um dos fatores de estímulo ao aumento do uso de
confinamento, juntamente com a própria necessidade de suplementação do gado.
Em outras palavras, além de as pastagens com menor
capacidade de suporte demandarem uma estratégia de alimentação, “levar” esse
gado para abate em outubro e novembro também tem o atrativo de preços normalmente
melhores.
A figura 2 traz as variações médias de preços do boi gordo
entre o primeiro e segundo semestres.
Figura 2. Variações de preços médios do boi gordo no segundo semestre de cada ano, em relação ao primeiro, em São Paulo.
Obs: para 2021 foram usadas as referências do mercado futuro
(B3) em 19/8.
Fonte: Scot Consultoria
Considerando o período apresentado, de 2010 a 2020, a
cotação média do boi gordo no segundo semestre foi 6,9% maior. Usando o mesmo
raciocínio para a reposição, temos altas de 5,4% e 5,3%, respectivamente.
Ou seja, com o preço do boi gordo subindo mais que a
reposição, há melhoria do poder de compra do recriador/invernista no segundo
semestre, na média dos anos.
Focando no boi gordo e utilizando os preços médios de julho,
mais os projetados no mercado futuro do boi gordo, em relação à média do
primeiro semestre de 2021, temos uma alta de 4,9% na média do segundo semestre.
Ou seja, o movimento esperado pelo mercado futuro está mais tímido que a média
dos últimos anos e, como pode ser observado na figura 2, bem abaixo das altas
de 2019 e 2020.
EXPECTATIVAS
A oferta de gado terminado em confinamento tem aumentado, o
que pressiona o mercado, uma vez que o escoamento no mercado doméstico não está
forte.
As exportações, por outro lado, começaram agosto em ritmo
forte, o que ajuda a segurar as pontas do lado da demanda. A evolução do câmbio
e da situação da pandemia na China, assim como as medidas de contenção pelo
governo, devem ser acompanhadas.
No mercado doméstico, apesar de a economia ainda sentir os
efeitos da crise e a inflação afetar o poder de compra, diversos indicadores
têm apontado para melhoria. Como exemplo, o Indicador de Intenção de Consumo
das Famílias (ICF), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), melhorou 2,0 %
em julho na comparação mensal e 3,5% frente a julho de 2020.
Os números de casos e mortes melhorando, com a vacinação
avançada, geram mais abertura da economia, o que deve se somar à própria
sazonalidade citada e gerar um segundo semestre positivo para o escoamento. Sem
excesso de otimismo quanto a esse ponto, mas esperamos melhoria.
Resumindo, com o aumento da oferta de confinamento, mas
exportações em bom ritmo e consumo doméstico em recuperação, devemos ter preços
firmes ao longo do semestre, o que não exclui momentos de pressão de baixa,
como observado atualmente.