Saiba mais sobe o Plano ABC+
Com tecnologias de produção sustentável, programa pretende reduzir emissão de carbono em mais de 1 bilhão de toneladas
Sustentabilidade

Reduzir a emissão de carbono equivalente em 1,1 bilhão de
toneladas no setor agropecuário é a meta definida pelo Plano Setorial de
Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, chamado de ABC+, para o
período de 2020 – 2030. O valor é sete vezes maior do que o plano definiu em
sua primeira etapa na década passada.
Já, em área, o ABC+ tem como meta atingir, com tecnologias
de produção sustentável, 72,68 milhões de hectares (pouco mais do que duas
vezes o tamanho do Reino Unido); ampliar o tratamento de 208,4 milhões de
metros³ de resíduos animais e abater 5 milhões de cabeças de gado em terminação
intensiva.
“Temos uma das mais ambiciosas políticas públicas da
agropecuária do mundo, que traça metas ousadas para aprimorar a
sustentabilidade da produção brasileira ao longo da próxima década e manter o
agro na vanguarda dos esforços de enfrentamento da mudança do clima”, disse a
ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, no
lançamento das novas metas.
A política pública é única no mundo em seu escopo,
abrangência e alcance. Com base em comprovações científicas, a atuação do ABC+
foi ampliada em metas ambiciosas para os próximos 10 anos. Afinal, a
agropecuária brasileira, comprovadamente, pode auxiliar no combate ao aquecimento
global.
“A agropecuária brasileira é parte da solução. Feita com
bases tecnológicas e em sistemas sustentáveis, ela pode ser descarbonizante. O
futuro é isso. E, por isso, o plano se chama mais (+)”, destaca a diretora do
Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura,
Mariane Crespolini.
MAIS
O plano ABC+ é a segunda etapa do Plano ABC, que foi
realizado entre 2010 e 2020 e comprovou resultados para além do previsto,
mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente
em uma área de 52 milhões de hectares, superada em 46,5% em relação à meta
estabelecida. Vale ressaltar que os valores estabelecidos como meta para esta
década são adicionais aos já atingidos pelo ABC, que devem ser mantidos.
Para evoluir na conservação do meio ambiente enquanto
produz, o ABC + não só incrementou as metas a serem atingidas para a mitigação
de gases de feito estufa, como aprimorou o entendimento de que há que se
trabalhar, também, com a resiliência dos recursos naturais. Afinal, os impactos
da mudança climática já se fazem presentes e é preciso apresentar soluções com
base científicas para este novo cenário, já que setor agropecuário é o mais
vulnerável a essas alterações por ser uma indústria a céu aberto.
ABORDAGEM INTEGRADA
Para isso, o foco é uma abordagem integrada da paisagem das
áreas produtivas, o que consiste em olhar a propriedade não apenas como
produtora de alimentos, mas levando em considerações toda a sua paisagem ao
redor de forma sistêmica com o cumprimento ao Código Florestal; a saúde do
solo; a conservação de água e de toda a biodiversidade. Assim, a abordagem
integrada ainda possibilita a valoração econômica dos serviços ambientais
gerados pelos ecossistemas durante a produção agropecuária e também se presta
ao equacionamento do entendimento do ambiente rural, especialmente em relação
ao ordenamento do território.
É o que explica a coordenadora de Mudanças Climáticas,
Florestas Plantadas e Agropecuária Conservacionista do Mapa, Fabiana Villa
Alves. “Todas as tecnologias propostas no Plano ABC+ atendem o tripé da
sustentabilidade em seu fator ambiental, social, econômico. Por isso, há o
incentivo para uma maior produtividade com efeito poupa-terra”, declara ao
reforçar o conceito de que não é preciso avançar em áreas para se produzir mais
e melhor.
TECNOLOGIAS PARA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
A partir do conceito de paisagens integradas, é possível
convergir, por exemplo, para que a criação bovina também contribua para a
mitigação. A partir de suplementação da dieta do bovino com ração também é
possível que ele atinja a idade e peso para abate antecipadamente, o que reduz
ainda mais a quantidade de gases que os animais emitiriam se tivessem que
alcançar tais medidas apenas com a pastagem. Isso ainda contribui para poupar a
forrageira, revigorando a pastagem, que passa a captar e fixar o carbono no
solo.
Essa tecnologia, chamada de terminação intensiva, busca
atingir 5 milhões de bovinos, a partir de técnica de confinamento ou semiconfinamento,
característica da agropecuária tropical. O avanço na alimentação bovina, por
exemplo ainda permite agregar à alimentação do gado ingredientes que
influenciam na fermentação entérica do bovino, resultando em uma menor emissão
de gases de efeito estufa.
Com o uso de irrigação na agricultura nacional
potencializa-se a fertirrigação e o aproveitamento de dejetos animais. Em
síntese, a manutenção da umidade do solo aumenta o estoque de carbono, pois,
solos ricos em matéria orgânica retém mais nutrientes, aumentando a
produtividade, ao mesmo tempo em que sequestra e armazena carbono. A proposta
de aplicação dessa tecnologia é em uma área de 3 milhões de hectares.
Tanto a terminação intensiva quanto a irrigação são
tecnologias que foram incorporadas ao ABC+, que ainda conta com a revisão das
outras seis já implementadas na primeira fase do Plano.
RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS
A possibilidade de se utilizar diferentes práticas para
recuperar ou renovar uma pastagem com algum grau de degradação, o ABC+ amplia o
escopo para 30 milhões de hectares com a capacidade produtiva das pastagens
degradadas. As práticas para recuperação de pastagens degradadas buscam
incrementar a produção da biomassa vegetal das forrageiras presentes, o que, em
seguida, propicia ganhos na produção animal pelo manejo racional da pastagem
formada.
Outra tecnologia disponível no ABC+ é a plantação de florestas
numa expansão de 4 milhões de hectares para o atendimento à recuperação de
áreas ambientais e à produção comercial de madeira, fibras, alimentos,
bioenergia e produtos florestais não madeireiros (látex, taninos, resinas e
bioprodutos). O mercado de floresta plantada apresenta importante papel
econômico e, principalmente, ambiental, diminuindo a pressão sobre as florestas
nativas. Segundo a Indústria Brasileira de Árvores, para cada 1 hectare de
floresta plantada, conserva-se aproximadamente 0,7 hectare de florestas
naturais, já que funcionam como sumidouros de carbono pelo acréscimo de
biomassa.
Ao sistema de plantio direto, foram adicionas as hortaliças,
numa aposta de fortalecer a agricultura familiar. Em conjunto com o plantio
direto de grãos, a proposta de expansão mira 12,5 milhões de hectares, que
devem ser manejados a partir de princípios como o mínimo revolvimento do solo;
cobertura permanente com plantas vivas ou palhada; e diversificação de plantas
na rotação de cultivos, com adição de material orgânico vegetal.
BIOINSUMOS E MICRORGANISMOS
Uma solução a ser utilizada é o uso de microrganismos a
partir de bioinsumos. Com importância crescente para a agropecuária nacional, a
tecnologia coloca o Brasil como grande expoente nesse cenário, tanto que, em
2020, o Mapa lançou o Programa Nacional de Bioinsumos.
Os microrganismos atuam não apenas para a fixação biológica
de nitrogênio, mas também como promotores do crescimento de plantas, além de
melhorar a fixação e ou disponibilidade de nutrientes no solo e como predadores
naturais no controle biológico. A proposta de aplicação para essa tecnologia,
até 2030, é de 13 milhões de hectares.
Com o ABC+ ainda espera-se aumentar o voluma manejado de
resíduos da produção de animais confinados, especialmente, suínos, bovinos e
aves, potencializando a sinergia entre ganhos econômicos e ambientais nas
propriedades rurais. O manejo de resíduos da produção animal engloba
tecnologias para o tratamento de todos os tipos de resíduos oriundos da
produção animal, como dejetos líquidos (compostos pela mistura de água de
limpeza, fezes, urina e, restos de alimentos), camas, carcaças de animais
mortos não abatidos e resíduos fisiológicos, entre outros, e adequada
estabilização de seus efluentes.
O tratamento de resíduos da produção animal é uma
alternativa ao armazenamento em lagoas (esterqueiras), sistema altamente
emissor de gases de efeito estudo, principalmente metano. A previsão do plano é
que 208,4 milhões de m3 de resíduos de produção animal sejam tratados, volume
correspondente a 27% do total de resíduos gerados por sistemas de produção
pecuários.
BENEFÍCIOS AO PRODUTOR
“A sustentabilidade era vista como um cobenefício há algum
tempo, mas hoje é uma condição sine qua non para um caminho sem volta na
agropecuária. Ao aumentar a sustentabilidade a partir do uso de tecnologias
adequadas, consequentemente, se aumentará a produção”, defende o secretário de
Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, Fernando Camargo.
Além de promover sistemas produtivos mais adaptados à
mudança do clima e que salvaguardam os recursos naturais, o Plano ABC fomenta
um portfólio de tecnologias com sólido embasamento técnico-científico, que
também considera aspectos econômicos e sociais.
Ou seja, o sucesso do plano ABC e sua evolução para a
produção nos próximos anos traz oportunidades de negócio para o produtor rural,
aumentando a produtividade, reduzindo as perdas de produção, gerando empregos e
melhorando a qualidade de vida no campo.
Com o aumento da produtividade, o produtor se beneficia com
a eficiência no uso dos recursos naturais, fatores quase que exclusivos para a
produção no campo. É a partir deles, agregados a um sistema que mitiga ou
neutraliza o carbono, que o produtor obtém reconhecimento e valorização do seu
produto no mercado.
Um exemplo já encontrado nos mercados nacionais é a carne
carbono neutro. Produzida no Brasil, a proteína agrega em seu valor o fato de
ter todo o metano emitido pelo bovino neutralizado em carbono equivalente
durante o processo de produção pelo crescimento de árvores e da vegetação
integrada à propriedade.
Esse é o sistema integrado, que combina numa mesma área de
criação animal, a pastagem e o componente florestal para sequestrem e fixem o
carbono no solo. Até 2030, deve ser implementado em 0,10 milhão de hectares
adicionais seja via Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou
Sistemas Agroflorestais (SAF).